domingo, 2 de agosto de 2015

Um tesouro arquitetônico perdido

O modernismo foi uma expressão artística com grande influência no Brasil no século XX. Tanto nas artes, como na literatura quanto na arquitetura. Em 1922, tivemos a famosa Semana Modernista a qual foi um divisor de águas entre o passado e o moderno propriamente dito. Na literatura surgiram grandes nomes como Tarsila do Amaral, Oswald Andrade, Carlos Drummond de Andrade, dentre diversos outros. Nas artes, nomes expressivos como Lasar Segall, Anita Malfatti se destacaram e na arquitetura podemos citar Rino Levi, Affonso Eduardo Reidy, Lúcio Costa e claro, o maior dos expoentes, Oscar Niemeyer.
O modernismo também nos deixou como herança inúmeros ícones: Brasília e seus edifícios, Igreja da Pampulha, Edifício Copan, Casa Modernista de Gregori Warchavchik Museu de Artes de São Paulo (MASP), etc. Estes últimos citados, todos localizados na cidade de São Paulo, onde há um tesouro arquitetônico deste período o qual foi esquecido ao longo do tempo e hoje encontra-se em grande processo de descaracterização e seu objetivo principal abandonado e perdido: a Vila Modernista dos Jardins.
Construída entre 1936 e 1938, o projeto da Vila Modernista é de autoria do renomado arquiteto Flávio de Carvalho, possuía dezesseis casas, uma diferente das outras. A localização das casas era disposta da seguinte forma:
Rua Ministro Rocha de Azevedo: quatro casas;
Alameda Lorena: quatro casas, uma maior na esquina com a Ministro Rocha de Azevedo e outras sete em uma ruazinha particular aos fundos da Alameda Lorena.
Como o projeto modernista deixava muita gente, digamos, com “a pulga atrás da orelha”, Flávio de Carvalho, elaborou um manual de instruções explicando a facilidade de uso de cada casa, uma vez que os móveis eram fixos, de alvenaria. No fundo, o arquiteto educava, com dicas simples, os novos moradores de uma cidade que crescia em ritmo incomparável em todo o mundo.
Mas, novidade é sempre novidade e, de princípio, a vila não agradou a maioria da população, porém, entre artistas e intelectuais, estas casas se tornaram um grande sucesso e havia disputa entre eles para se tornarem inquilinos.
Entretanto, sabemos que tanto em São Paulo, como no Brasil de uma forma geral, o interesse, cuidado e preservação do patrimônio histórico e arquitetônico nem sempre é o forte. Com o tempo, a cidade se expandiu e o que era para ser um grande marco na arquitetura paulistana e brasileira ficou sufocada e vieram as descaracterizações, as quais não é injusto chama-las senão criminosas ao menos imorais.
Das quatro casas situadas na Alameda Lorena, três estão completamente descaracterizadas e apenas uma sobrevive ao projeto original. A maior casa da vila, aquela que se encontrava na esquina, foi demolida e deu lugar sabe a que? A um prédio. Novidade, né? E para terminar, todas as casas da Rua Ministro Rocha de Azevedo estão irreconhecíveis. As sete casas da rua particular agonizam com vitrines ao invés de janelas.
O arquiteto que projetou a Vila Modernista, tinha como intenção “educar os novos moradores para a sociedade”, infelizmente, acreditamos ele não tenha tido êxito neste propósito, pois a Vila Modernista hoje agoniza, em meio aos maus-tratos de uma vida agitada próxima a um dos mais importantes centros financeiros do país, onde a imensa maioria dos que passam em seus automóveis ou a pé defronte delas não reconhecem estar em contato de um dos maiores tesouros de nossa arquitetura.






















Colaboração e imagens: São Paulo Antiga
Crédito planta (croqui) Vila Modernista: Prof. Mestra Carolina Pierrotti Rossetti (Arquiteta USP/São Carlos)
Adaptação: Gregório Anaconi

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