sábado, 17 de janeiro de 2015

Laudo revela origem do afresco inédito descoberto durante o restauro do Museu Casa de Portinari

Análise foi realizada por especialistas da Comissão de Autenticidade das Obras de Candido Portinari, do Projeto Portinari.
Um trabalho realizado a quatro mãos. Esta é a conclusão da análise realizada pela Comissão de Autenticidade das Obras de Candido Portinari, responsável por determinar a autoria do afresco inédito descoberto durante o restauro do Museu Casa de Portinari, na cidade de Brodowski, interior de São Paulo. Os pesquisadores concluíram que o artista paulista colaborou para a realização do afresco, mas que a pintura teve a participação de outro artista, não identificado. O resultado sai às vésperas das celebrações pelos 111 anos de nascimento de Portinari, comemorados no dia 30 de dezembro.
Madona com Menino Jesus, como foi batizada, não pode ser considerada uma obra finalizada, mas um estudo de figuras e da aplicação dos tons pastéis. Mesmo assim, concluiu a Comissão, deve ser inscrita no rol das obras autênticas de Portinari, com a observação de que sua autoria é compartilhada. Portinari orientou este outro artista na execução geral da obra e pintou, ele mesmo, o detalhe do rosto do Menino Jesus. O laudo é assinado por Christina Penna, Edson Motta, Cláudio Valério e Noélia Coutinho, além de João Candido Portinari, diretor-geral do Projeto Portinari e filho do artista.
As análises começaram em maio deste ano, logo após a reinauguração do Museu Casa de Portinari. O afresco foi descoberto durante as obras de restauro realizadas pelo Governo do Estado de São Paulo, proprietário do museu, entre 2012 e 2013. A pintura estava coberta por camadas de tinta de parede comum, ao lado da porta, em um cômodo que já havia sido uma varanda e que mudou de função ao longo de sucessivas reformas.
A casa, onde o pintor passou a infância e para onde voltava com freqüência ao longo de toda sua vida adulta, era um grande laboratório do artista, que preencheu suas paredes com rascunhos e obras finalizadas nas técnicas de pintura mural e afresco.
Assim que a nova pintura foi descoberta, a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo procurou o Projeto Portinari, instituição responsável pela avaliação de autenticidade das obras do artista, que designou uma comissão especializada para estudar o caso. A preocupação se deu porque pelo menos outros três artistas, a convite de Portinari, também deixaram obras nas paredes da casa: Paulo Rossi Osir, José Moraes e Joanita Blank.
“A descoberta do novo afresco foi bastante importante porque ele se constitui em um testemunho valioso sobre o processo de trabalho e sobre a relação do Portinari com outros artistas. Ele reforça a dimensão da Casa como um espaço de estudo e trabalho do artista”, afirma o Secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Marcelo Mattos Araujo.
Segundo Angélica Fabri, diretora executiva da ACAM Portinari, organização social de cultura que administra o Museu Casa de Portinari em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura, o fato de o artista ser um dos autores do novo afresco também fortalece a relação dele com sua terra natal. “Portinari costumava passar temporadas em Brodowski (SP), sempre em busca de ideias e de inspiração. Ele gostava de pintar sua gente, sua cultura e seus costumes, e também aproveitava para fazer estudos com novos materiais que pudessem ser aplicados em suas obras”, explica. 

Para chegar ao resultado do laudo, a comissão comparou o afresco descoberto com os outros existentes no imóvel. AMadona com Menino Jesus possui características bastante diferentes das demais obras, assim como o Sagrado coração de Jesus, outro afresco existente no mesmo cômodo, descoberto num restauro anterior.  Ambas foram pintadas por volta de 1937 e são obras rústicas, tanto no desenho como na técnica. Além disso, o fato de que foram encobertas, provavelmente por intenção do artista, indicam que não eram consideradas obras finais.

Quem pintou a Madona com Menino Jesusjunto com Portinariporém, continua um mistério. “A determinação objetiva de qual artista teria colaborado na execução do afresco será impossível”, afirma o laudo, já que não existe documentação referente a este estudo. Além disso, “as análises das obras de outros artistas que constam desse laudo não foram conclusivas quanto à técnica e ao estilo que se aproximassem do afresco”.
O Museu Casa de Portinari
Instalado na casa onde Candido Portinari residiu urante sua infância e juventude, em Brodowski (SP), o Museu Casa de Portinari é uma instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo que representa o marco concreto do vínculo do artista com sua terra natal, ligação que é celebrada e perpetuada em sua obra plástica e poética. O último restauro foi realizado entre os anos 2012 e 2013, com investimento de R$ 4,2 milhões no reforço estrutural, restauro artístico e implantação de projeto expositivo inteiramente novo, que ressalta a relação de Portinari com sua terra natal. 

Devido às várias obras em pintura mural nas paredes da casa e em uma capela nos jardins da residência, a preservação do conjunto tornou-se imprescindível. O primeiro passo ocorreu em 9 de dezembro de 1968, quando a casa foi tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).  No ano seguinte, o imóvel foi desapropriado e adquirido pelo Governo do Estado de São Paulo e, em 22 de janeiro de 1970, foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). Com esforços da família do artista, do município e do Estado, o museu foi instalado e inaugurado em 14 de março de 1970.

Nenhum comentário:

Postar um comentário