terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Revista de História - Vamos pra Lapa

Documentário independente produzido por estudantes retrata o conhecido bairro carioca de forma poética, mas sem esconder suas mazelas sociais

Nashla Dahás

Com menos de meia hora de duração e imagens encantadoras, o documentário Vamo lá pa Lapa, produzido por um grupo de graduandos em cinema e disponível na internet, consegue unir a obscuridade e a tristeza da marginalização à sinergia própria aos lugares de pertencimento e identificação, pessoais ou coletivos. Não se trata de uma história contada com a “pena da galhofa e a tinta da melancolia”, tal como Machado de Assis, uma vez morador da Lapa,  pôde definir o espírito do brasileiro. Mas com os ares de uma inteligência juvenil mal reconhecida pelas gerações anteriores. Marcada pelo desejo de conhecer aquilo que outrora esteve consagrado, se inscreve no mundo a partir de novos olhares.
Do aqueduto aos arcos da Lapa, passando por Madame Satã e uma trilha sonora composta por Pixinguinha, Noel Rosa e Vinicius de Moraes; até os personagens contemporâneos da noite carioca como o compositor da música tema do curta “meia noite na Lapa” e o rapper Marcelo D2, o espectador encontrará um presente tão amplo quanto o tempo de sua própria fermentação, desde o século XVIII.
Em 1968, o ano que não terminou, o escritor Zuenir Ventura falara daquela que para ele teria sido a “última geração literária”. Mais de 40 anos depois, em entrevista à RHBN, o próprio autor recompunha sua opinião: “Hoje, há a internet e isso foi uma mudança revolucionária. O conceito de geração também mudou, não há apenas uma geração, mas muitas tribos, e cada uma se veste de uma maneira, cada uma é quase uma geração”.
Aliar a consciência histórica, lenta promotora de sentimentos de reconhecimento e enraizamento, à capacidade de lidar com a informação rápida, quase instantânea, porém carregada de um progressismo ainda desconhecido das esquerdas políticas parece ser o trunfo inocente do documentário. Conforme completou Zuenir, esta é uma inteligência diferente e desafiadora; contempla a “nostalgia do não vivido” e, ao mesmo tempo, a energia da entrega passional e, talvez, inconsciente, da possibilidade de ação no mundo de hoje. Não há censura ou autocensura, apenas o espaço público tomado, estudado e apropriado de diferentes maneiras por seus cidadãos-personagens.
É o historiador e velho conhecido dos alunos do ensino médio carioca Milton Teixeira quem explica as origens fidalgas da Lapa, homenageada em 1723 com a maior construção do Rio antigo, o Aqueduto da Carioca, que deveria resolver problemas de abastecimento de água na região. O nome “Lapa”, ele explica, sugere a ideia de uma gruta, algo escuro, onde acontecem as coisas proibidas durante o dia. Com o tempo, a convergência dos meios de transporte tornou o local “popular” demais, cheio demais, brasileiro demais, e as elites subiram para Santa Teresa, enquanto o espaço foi sendo ocupado pelos “malandros”.

continua texto no link: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/vamo-pa-lapa 



















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