sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O nascimento de uma capital

Por Claudia Bojunga

Há 250 anos o Rio de Janeiro ganhava o status de sede do Estado do Brasil (o que não inclui o Estado do Grão-Pará e Maranhão), posto até então ocupado por Salvador. A mudança contribuiu para uma transformação marcante da paisagem urbana carioca. Com construções como o Passeio Público e o chafariz de mestre Valentim, o Rio ganhou características renovadas, calcadas na estética barroca. A configuração de suas ruas, praças e monumentos eram reflexo do projeto de poder que se instaurava na cidade.

A política colonial naquela década estava sob o firme comando do marquês de Pombal, secretário de Estado do rei português D. José I. Foi ele quem decidiu pela transferência da sede. No poder desde 1750, Pombal buscava sempre reforçar o poder do rei. O projeto colonial se afirmava pelo fortalecimento do Estado. 

O Brasil – que vivia o ciclo do ouro desde o final do século XVII – passara a despertar a atenção de Portugal em meio a tantos outros domínios. “Até então, a joia da Coroa era a Índia. O ouro vai afirmando o Brasil no contexto do império colonial português”, observa Paulo Knauss, professor de história da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretor-geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.  Na segunda metade do século XVIII, o Brasil e, particularmente, o Rio de Janeiro passariam a desempenhar papel central para os interesses da metrópole.

Ponto de articulação da região meridional do império atlântico português, o Rio foi se tornando cada vez mais estratégico. A proximidade em relação à região do rio da Prata, alvo de disputas territoriais de longa data com os espanhóis, fazia com que a cidade fosse um ponto de apoio importante na defesa da porção sul dos territórios lusitanos. Além da ocupação do território, os portugueses se preocupavam com as riquezas geradas na área, devido ao intenso comércio realizado abaixo da linha do trópico, que tinha entre seus produtos o charque, o couro e a prata.

Comparando com Salvador, o Rio de Janeiro também ficava mais perto da chamada região das minas. Em 1763, o ciclo do ouro já não estava em seu auge. Por paradoxal que pareça, é justamente por isso que a Coroa tinha a preocupação em manter a área sob seu controle. “Antes, a distribuição de riqueza era farta; na hora em que ela diminui, a presença do Estado se fez mais importante. Provavelmente, o governo queria estancar a perda de arrecadação”, esclarece Knauss.

Na arquitetura, a cidade precisava refletir toda essa importância. Sob o governo do vice-rei Luís de Vasconcelos e Souza (1778-1790), é erguido o belo chafariz de mestre Valentim, no largo do Carmo – hoje, praça XV, no centro do Rio. O local do monumento à beira do porto foi escolhido a dedo por causa de sua simbologia. “O chafariz vira uma espécie de obelisco, tornando-se a grande porta da entrada da cidade,” explica José Pessôa, arquiteto, urbanista e professor da Escola de Arquitetura da UFF. Hoje, parte da área foi aterrada e o chafariz perdeu o destaque de outrora.

Mas a obra de mestre Valentim é apenas um dos aspectos das mudanças realizadas no largo do Carmo. O Palácio dos Governadores – depois Paço Imperial – recebeu um andar extra. A reforma lhe conferiu magnificência. A praça também ganhou piso radial, que, dadas as devidas proporções, era similar ao da praça do Capitólio em Roma, projetada por Michelangelo – piso esse que não existe mais.

Leia esta matéria na íntegra na História Viva 122

Claudia Bojunga é jornalista.


Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/rio_de_janeiro_capital_brasil.html 


 


















Vista da lagoa do Boqueirão e do aqueduto da Carioca e convento de Santa Teresa, óleo sobre tela, Leandro Joaquim, 1790

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