terça-feira, 5 de novembro de 2013

A banalização da arquitetura, por Natália Garcia

Matéria publicada do site Defender RS, que reproduzo abaixo:

A arquitetura deixou de ser um ofício ligado ao planejamento estratégico das cidades. Também não é mais uma disciplina a serviço da democracia – ao contrário, consiste cada vez mais em desenhar espaços privados para os que podem pagar por eles. Essa é a tese central da exposição A Banalidade do Bem, que está em cartaz no Centro Cultural São Paulo como parte integrante do circuito da X Bienal de Arquitetura. Trazida ao Brasil pelo escritório holandês Crimson Architectural Historians, a exposição se apoia em um estudo sobre cidades planejadas pelo mundo desde o final da Segunda Guerra Mundial até hoje.
O gráfico abaixo, que integra a exposição, analisa cidades planejadas em todos os continentes do planeta desde a década de 50. Nele é possível notar como a iniciativa, os investimentos e a execução dessas novas cidades têm migrado do poder público local para as empresas privadas nacionais e globais.





















Esse segundo gráfico é uma consequência do primeiro. Com investimentos em empreendimentos arquitetônicos vindo majoritariamente da iniciativa privada nacional e internacional, o foco no planejamento estratégico local se perdeu. Em vez disso, as cidades mais recentes passaram a ser refúgios planejados para pessoas de classes sociais mais altas.





















Já o terceiro diagrama da exposição mostra como as áreas de atuação dos arquitetos pelo mundo mudaram ao longo dos anos e hoje se concentram principalmente em equipamentos culturais. Com o título “Do Interesse coletivo para o Cartão Postal”, esse gráfico aponta como a arquitetura diminuiu sua atuação em áreas estratégicas como a execução de planos diretores ou projetos habitacionais para focar em equipamentos estéticos.





















As reflexões trazidas pela exposição A Banalidade do Bem reforçam a ideia de que o planejamento urbano potencializou o processo de construir cidades mas sua lógica de financiamento subverteu o foco estratégico no bem estar das pessoas. Nas palavras do arquiteto Wouter Vanstiphout, do Crimson: “as estruturas urbanas deixaram de ser pensadas para as pessoas, um erro que está mudando os paradigmas do planejamento urbano, trazendo de volta à tona a necessidade de uma gestão mais democrática das cidades”. Voltando à reflexão que encerrou o post da semana passada: em vez de formatar pessoas que caibam nas estruturas das cidades, precisamos recuperar a habilidade de planejar cidades que contemplem a diversidade das pessoas.
Natália Garcia é jornalista especializada em planejamento urbano e criadora do Cidades para Pessoas


Fonte da Pesquisa: http://defender.org.br/2013/11/05/a-banalizacao-da-arquitetura-por-natalia-garcia/ 

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