terça-feira, 13 de agosto de 2013

Rodrigo Melo Franco de Andrade e o Patrimônio Cultural

“Mais um relevante trabalho do ministro Gustavo Capanema ao país a criação do Serviço de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico, com a incumbência entre outras múltiplas e variadas, de realizar o tombamento geral dos monumentos e evitar a evasão de obras, objetos de arte e de história dignos de nossas tradições e do nosso apreço”. Assim, Rodrigo Melo Franco de Andrade, definia a criação e os trabalhos iniciais do órgão que, após 76 anos, continua com a missão de preservar e proteger o patrimônio cultural brasileiro.

Sua história no então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), teve início em 1936, quando o ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, por indicação de Mário de Andrade e de Manuel Bandeira, o convidou para organizar e dirigir o SPHAN. A proteção dos bens patrimoniais do país passou a ser sua atividade principal, deixando em segundo plano a literatura, o jornalismo, a política e a advocacia.
A implantação do Serviço do Patrimônio exigiu o cumprimento de diferentes tarefas, como a redação de uma legislação específica, com a introdução do instrumento do tombamento, a preparação de técnicos e trabalhos na área, disputas judiciais, luta pela sobrevivência da repartição junto a políticos e governantes e a busca de uma consciência de preservação, em nível nacional.

Como bem lembrou o professor Luiz Cruz, em artigo à Revista de História, muitas causas tramitaram em foro judicial para a defesa de igrejas ou casarões. Nessas ocasiões, seus talentos de advogado e de escritor foram fundamentais para a vitória em diversos casos, e Rodrigo criou muita jurisprudência que garantiu a preservação e proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro, ao longo das últimas décadas.

Antigo e moderno, ele conseguia conciliar admiravelmente a busca pela modernidade e o respeito pela tradição. Sua ação decisiva fez com que obtivesse o apoio e a admiração de todos os que com ele conviviam: funcionários, técnicos, especialistas brasileiros e estrangeiros, chefes de repartições e governos, representantes do povo, além de intelectuais, poetas e artistas plásticos.

Nos primeiros anos do SPHAN, Rodrigo contou com a colaboração de brasileiros ilustres, como Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Leão, Luís Jardim, José de Sousa Reis, Lúcio Costa, Edgar Jacinto da Silva, Renato Soeiro, Aírton Carvalho, Afonso Arinos de Melo Franco, Carlos Drummond de Andrade, Joaquim Cardoso, Gilberto Freire, Alcides da Rocha Miranda, Vinícius de Morais, Celso Cunha, Arthur César Ferreira Reis, Sérgio Buarque de Holanda e muitos outros.

Formou-se uma equipe com pesquisadores, historiadores, juristas, arquitetos, engenheiros, conservadores, restauradores, mestres-de-obras, a quem Rodrigo transmitia seu entusiasmo e empenho incansável na defesa do patrimônio cultural do país.

Sempre sob sua meticulosa orientação, foram realizados inventários, estudos e pesquisas, além de obras de conservação, consolidação e restauração de monumentos; organizou-se um arquivo de documentos e dados colhidos em arquivos públicos e particulares; reuniu-se valioso acervo fotográfico e estruturou-se uma biblioteca especializada; pinturas antigas, esculturas e documentos foram recuperados e inúmeros bens protegidos, com a criação de museus regionais e nacionais.

Outra grande preocupação de Rodrigo referia-se à divulgação desse trabalho. Para tanto, criou uma linha editorial dentro da instituição, onde se destaca a Revista do Patrimônio, cujo primeiro número circulou ainda em 1937. Em 1997 foi lançada uma edição especial da publicação, intitulada 60 anos - a Revista, onde é republicado texto de Rodrigo sobre o programa do primeiro número.

O período em que esteve à frente da instituição, que vai de 1937 a 1967, ficou conhecido como fase heroica, refletindo a realidade dos percalços e desafios enfrentados. Rodrigo e seus seguidores entendiam a atuação no SPHAN como uma “missão”, para além da ocupação de cargos na estrutura burocrática do período de governo do então Presidente da República, Getúlio Vargas. Os que o conheceram e com ele trabalharam afirmam que o envolvimento entre a pessoa e o serviço era tão grande, que tornava impossível entender o patrimônio sem conhecer e compreender a personalidade e a atuação de Rodrigo Melo Franco de Andrade.

“Do transcurso do 20º aniversário à frente do SPHAN, conta Rubem Braga, Rodrigo mandou chamar alguns dos seus funcionários (...). Não houve docinhos nem beberete; nem sequer uma flor. O que os funcionários ouviram foi um grave e delicado ‘pito’ e um apelo para que trabalhassem mais. Nenhum se queixou depois; todos ficaram comovidos porque o funcionário que Rodrigo mais censurou foi ele mesmo, o chefe”.  (A lição de Rodrigo. DPHAN, 1969 apud Rodrigo e Seus Tempos. Rio de Janeiro, 1986).

Aposentou-se em 1967, entretanto, continuou sua contribuição como conselheiro no Conselho Consultivo do SPHAN. Ao término de sua gestão, a instituição estava consolidada, reconhecida no país e internacionalmente, pelo êxito de suas ações e realizações. O poeta Carlos Drummond disse que “foram 62 anos de dedicação, pois Rodrigo trabalhava compulsivamente, sem horário para encerrar o expediente, sem final de semana, sem feriado, sem férias”.

O legado deixado se confunde com a trajetória da preservação do Patrimônio Cultural, no país, a ponto de simbolizá-la: o Dia do Patrimônio é celebrado no dia de seu nascimento, 17 de agosto. A data passou a ser celebrada em 1998, quando ele faria 100 anos.  Foi realmente um obstinado. Rodrigo faleceu dois anos depois, no dia 11 de maio de 1969.

Em sua homenagem, o IPHAN criou, em 1987, o Prêmio Rodrigo Melo Franco, oferecido anualmente a empresas, instituições e pessoas de todo o País que promovam a preservação do patrimônio cultural brasileiro.
Fontes ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. A defesa do patrimônio histórico e artístico nacional. In ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o SPHAN; coletânea de textos sobre o patrimônio cultural. Rio de Janeiro: MinC, Fundação  Pró-Memória, 1987.
MARINHO, Teresinha. Rodrigo e seus tempos, Coletânea de textos sobre artes e letras. Rio de Janeiro: MinC, Fundação  Pró-Memória, 1986.
Vitruvius - Rodrigo Melo Franco de Andrade e a paisagem hiper-real do patrimônio
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Rodrigo Melo Franco de Andrade, Nota Bibliográfica.
http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=450

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/portal/montarDetalheConteudo.do;jsessionid=F6F84684763BB7441D5F23A0771DCC95?id=17798&sigla=Noticia&retorno=detalheNoticia


  

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