domingo, 12 de maio de 2013

Livro mostra as riquezas da arquitetura na área da Cidade Baixa em Salvador (BA)

Há mais influências arquitetônicas entre a Cidade Alta e o Porto de Salvador do que pensam os que não têm olhos para a beleza do Comércio. E todas essas influências ganharam forma de belos prédios e casarios por estarem nos arredores do porto, por onde transitou a riqueza (e ainda é, em parte, assim) não só de Salvador, mas também da Bahia. Marcando épocas e ciclos econômicos, as influências de ingleses, italianos, alemães, franceses e até mouros, sem contar os portugueses, claro, fizeram do Comércio de Salvador uma miscelânea arquitetônica ainda pouco valorizada.
Os portugueses inauguraram a mistura de estilos dos prédios do Comércio. Os colonizadores, no entanto, trouxeram diferentes formas de construí-los. Entre os prédios que marcaram as primeiras povoações de uma área em que o mar adentrava mais profundamente no continente do que se vê hoje (graças aos seguidos aterros), existiram os casarões, por exemplo, no estilo “Pombalino”. São feitos com paredes mais grossas, numa busca por resistência, que não deixou de privilegiar também a beleza.
O interessante dos casarões dessa fase é o motivo que gerou a ênfase na resistência das construções. Eles marcam a época da reconstrução da parte baixa de Lisboa, que foi destruída por um terremoto em 1775. O nome Pombalino è uma referência ao Marques de Pombal. Os sobrados que marcam essa influência podem ser encontrados próximas ao Elevador Lacerda, abrigando casas comerciais e moradias, estando quase todos em péssimo estado de conservação.
O estilo inglês de arquitetura foi explorado num dos períodos de maior pujança da economia baiana. Um dos prédios que demonstram não só a beleza desse estilo, mas também o destaque dado à imponência de suas construções é a sede da Associação Comercial da Bahia, cuja obra foi concluída em 1816. Naquela época o mar ainda chegava bem próximo do prédio, a alguns metros de suas portas.
Os franceses também deixaram sua marca no Comércio. Uma de suas escolas arquitetônicas, conhecida como Rococó, que surge na capital baiana entre os primeiros 50 anos do século XIX, tem belos exemplares na zona portuária. Um dos bons exemplos do estilo arquitetônico caracterizado pelas cores leves, alegres e elegantes, que foi um contraponto ao barroco (para alguns, somente um subproduto do barroco, com seu estilo pesado e escuro, representando apenas o final do seu período de influência) é a Casa Cabloca, na Rua dos Ourives.
A arquitetura alemã, por sua vez, deixa a sua principal marca ao redor do porto de Salvador no início do século passado, com a sede do Instituto do Cacau. Suas linhas retas, fachadas com cantos arredondados, basculantes fixos e uma aerodinâmica do estilo modernista, representam o expressionista germânico.
Um exemplo de arquitetura dos mouros (islâmicos do nordeste da áfrica) esta expressa em um dos prédios mais destacados do Comércio, a sede da Capitania dos Portos. Fato interessante sobre o prédio é que em seus primeiros anos foi também um local onde se construía naus, o que vai de encontro ao conhecimento popular que indica a Ribeira como único local de construção de embarcações na cidade.
Essas e muitas outras informações sobre a arquitetura que surge em torno do Porto de Salvador, estará disponibilizada em um livro. “Tesouro do Comércio – História e Arquitetura da Zona Portuária de Salvador” é uma das ações da Companhia das Docas do Estado da Bahia (CODEBA) que fará parte das comemorações do centenário do Porto de Salvador.
O livro será lançado na próxima segunda-feira, 13 de maio, o mesmo dia em que o porto foi inaugurado cem anos atrás. A cerimônia, que contará com a presença de autoridades das administrações estadual e municipal, ocorrerá às 18h, na sede da Associação Comercial da Bahia.
O livro é ilustrado com fotos de Sérgio Pedreira e tem texto do jornalista, e colunista da Tribuna da Bahia, Jolivaldo Freitas. Para Freitas os três meses de pesquisa, em que coletou informações sobre as edificações do Comércio foi um exercício prazeroso. “Sou um dos maiores admiradores daquela área da cidade e saber mais detalhes sobre sua história foi um prazer, principalmente, quando as fontes foram os antigos comerciantes que até hoje labutam na região”, disse.
O envolvimento de Freitas com a área portuária de Salvador fica claro no texto do livro que leva o nome de “Os oitizeiros do Comércio”. Nele, o também escritor descreve imagens de sua infância que impregnaram sua memória ao vivenciar a região com olhos de admiração. Ele conta, por exemplo, o quanto era interessante descer e subir num Elevador Lacerda cujas cabines não eram totalmente fechadas. “Nós, meninos, adorávamos ficar olhando pelos vãos, no estilo quadro a quadro, enquanto o elevador subia. A Praça Cayru ficando distante, e o povo – até os marreteiros vendedores de remédio de verme – tornando-se pequeno até parecer formiga.”
No mesmo texto, ele conta ainda ter na memória gustativa o sabor “dos oitis maduros caídos do pé das dezenas de árvores que delineavam e protegiam a velha Praça Cayru”. Seu amor pela região era tanta que ele revela que, quando garoto, seu sonho era ser, “quando crescesse, office boy do Baneb, Econômico, da Aliança da Bahia, do Banco Nacional da Bahia, da Böhler Welding Group ou estafeta dos Correios ou da Western”.
Apesar de conhecedor, e ativistas pela revitalização, do Comércio, Freitas encontrou, durante a pesquisa que fez para o livro, muitas informações que lhe trouxeram surpresas. “Fiquei sabendo, por exemplo, da importância dos trapiches durante os anos antes da construção do atual porto. Eles faziam as vezes de mercados, para onde a população se dirigia em busca de uma grande variedade de mercadorias”, conta.
Ele lembra que um dos mais importantes deles tem uma história trágica. “Foi o Trapiche Querino, um dos maiores entre o século XIX e XX. As chuvas, como acontece até hoje na cidade, provocou o deslizamento da encosta vizinha ao prédio. Houve mortes e a necessidade de reconstruí-lo”, conta.
Outra descoberta que lhe surpreendeu, foi saber que o Quartel do Grupamento dos Fuzileiros Navais, na Avenida da França, foi construído para ser uma base de apoio dos destroyeres (navios de guerra) aliados durante a segunda guerra. Tinha, inclusive, um nome estrangeiro. Chamava-se Base Baker, e foi construído com dinheiro dos norte- americanos.
Tanto o livro “Tesouros do Comércio”, quanto os textos que tem escrito em diversas mídias sobre a área portuária de Salvador alimenta no jornalista o sonho de vê-la revitalizada e ter reconhecido pelo Brasil e pelo mundo, a sua beleza. “Tenho certeza que vai acontecer e vai ser provado que temos um dos centros antigos mais belos do mundo, comparável aos de Madrid e Buenos Aires. A área portuária de Salvador, uma vez revitalizada, será mais bonita, por exemplo, que a de Lisboa”, prevê. Por Carlos Vianna Junior

Fonte: http://defender.org.br/2013/05/11/livro-mostra-as-riquezas-da-arquitetura-na-area-da-cidade-baixa-em-salvador-ba/ 

















A arquitetura secular encontrada na Cidade Baixa é destacada no livro.

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