sexta-feira, 26 de abril de 2013

Disputa e festa preservadas

Iphan conclui pesquisa documental para registrar bois-bumbás do Médio Amazonas como patrimônio cultural brasileiro

Mauro de Bias

Garantido ou Caprichoso? A famosa disputa que divide a cidade de Parintins e praticamente iguala bois a clubes de futebol está prestes a se tornar patrimônio cultural do Brasil. A Superintendência Regional do Iphan, no Amazonas, concluiu em janeiro a pesquisa documental do processo para registrar os bois-bumbás do Médio Amazonas como parte fundamental da cultura brasileira, e agora inicia a fase de registros audiovisuais. Também serão preservados os festejos de Manaus, Itacoatiara, Itapiranga, Nova Olinda do Norte, Maués, Boa Vista do Ramos e Barreirinha.
Heloíza Araújo, superintendente substituta do Iphan-AM, explica que o objetivo é proteger as expressões culturais. “Essa manifestação artística ocorre em todo o território nacional. Só no Nordeste há 29 mil identificadas, mas apenas o bumba meu boi do Maranhão é registrado como patrimônio cultural. Por isso o interesse do Iphan em levantar informações do Médio Amazonas”, diz.
A origem das festas remete ao século XIX. O boi-bumbá apareceu na Amazônia com a chegada de cearenses e maranhenses durante o ciclo da borracha. “Vários costumes e tradições acabaram sendo filtrados e até mesmo adaptados para as circunstâncias encontradas aqui”, explica Heloíza.
Surgido no Nordeste, o bumba meu boi foi “exportado” para outras regiões com diferentes nomes. Na Amazônia – onde a festa ganhou destaque nacional – ele foi batizado de boi-bumbá. “As lendas amazônicas, a presença do indígena, tudo isso foi adicionado ao contexto do bumba meu boi”, acrescenta a superintendente.
Se hoje o Iphan pretende registrar o boi-bumbá como patrimônio cultural brasileiro, não se pode dizer que a festa tenha sido sempre bem recebida. No início, havia rejeição aos festejos, como explica o antropólogo e historiador Sérgio Ferretti. “As primeiras documentações eram sempre para reclamar do barulho, da desordem. Sempre algo negativo. Não se sabe exatamente como tudo começou, mas se sabe que já havia protestos desde o início”, conta.
Segundo o especialista, os bois ainda foram reprimidos pelo próprio poder público. “A festa era popular, tinha presença do negro, do pobre. Até os anos 1950 o boi nem podia se movimentar livremente pela cidade. Só era permitido em certas partes. Os governos os associavam à violência também”, analisa Ferretti.
A festa só começou a ganhar status positivo diante de outros setores da sociedade quando passou a ser valorizada por intelectuais e, principalmente, em função de gerar turismo e renda. “A partir dos anos 1960, os bois passaram a ser vistos como expressão da nossa identidade”, conta o pesquisador.
Agora o Iphan vai fazer diversos registros dos bois amazonenses. Fotos, vídeos, entrevistas com trabalhadores envolvidos nas festas e material iconográfico serão recolhidos ao longo do ano para montar o dossiê de registro como patrimônio cultural. O trabalho só deve ser concluído em 2014.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/disputa-e-festa-preservadas 





















Boi Mimoso / Reprodução

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