terça-feira, 26 de março de 2013

A volta do primeiro livro

Reedição de obra do século XIX sobre história da arte revela também como produção artística ficou fora do debate cultura

Ronaldo Pelli

“Excetuando o período modernista e aquele ligado às vanguardas construtivas no país, a produção artística nunca protagonizou o debate cultural.” Essa é a razão, segundo o professor e pesquisador da Escola de Comunicação e Artes da USP Tadeu Chiarelli, de o livro "Belas artes: estudos e apreciações" ter ficado há mais de um século fora do radar de quem se interessa pelo estudo da história da arte no Brasil.

A obra, considerada a primeira do gênero no Brasil, foi publicada pela primeira vez em 1885 pelo jornalista, dramaturgo, editor e crítico de arte Félix Ferreira, e está sendo reeditada agora, por conta do esforço de Chiarelli. O professor da USP localizou um dos únicos exemplares conhecidos na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo (o outro ficava no Setor de Obras Raras da Biblioteca da UFRJ), e, como não podia retirar o volume da seção de obras raras, transcreveu toda a obra à mão. Em seguida, atualizou para o português atual, acrescentando mais informações. Além do próprio texto, a obra contem comentários, um prefácio, glossário com termos específicos da época, bibliografia, uma pequena biografia de Félix Ferreira, e a reprodução de obras mencionadas no texto original.

"Belas artes: estudos e apreciações" é uma coleção de artigos que saíram primeiramente na imprensa carioca da época. Félix Ferreira introduz pela primeira vez no Brasil uma reflexão sobre o “desenvolvimento” da arte através do tempo e do espaço, desde as cavernas e primeiras construções, até a produção europeia do século XIX. Segundo Chiarelli, além desse pioneirismo, o grande mérito de Félix Ferreira é a tentativa de democratizar o conhecimento sobre o assunto.

“Eu acredito que tal situação [o esquecimento] se deu por desconhecimento, desinteresse e preconceito. Para alguém ligado àqueles movimentos do século XX, um autor da segunda metade do século XIX, sem outras publicações, não devia despertar o menor interesse”, argumenta o professor. “Quem se interessar a ler o livro de Ferreira perceberá que ali é possível estabelecer novas possibilidades para entender a situação da arte no Brasil no final do século XIX.”

Chiarelli ressalta como Félix Ferreira se interessava pelos meios de reprodução da imagem, como a xilogravura e a fotografia. “Sua preocupação com a educação da população brasileira como um todo e o papel que a arte e os novos meios de reprodução de imagem dentro dessa questão, para mim são pontos muito atuais ainda.”

Para o professor da USP, a intenção do livro é introduzir o público brasileiro no território da história da arte universal, familiarizando-o com os períodos da história da arte (Origem e Desenvolvimento; Transformação e Florescimento; Grandeza e Decadência; Renascimento e Arte Moderna). Uma outra intenção é situar a produção artística brasileira dentro desse conjunto mais amplo, integrando obras e artistas cariocas à tradição forjada pela história da arte que se consolidava no século XIX. 

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/a-volta-do-primeiro-livro












'Combate Naval do Riachuelo', de Victor Meirelles, que aparece no livro

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