domingo, 1 de agosto de 2010

Patrimônio Histórico: Preservação x Modernidade

Preservar antigos centros ou partes de cidades históricas exige a revisão de conceitos como a preservação do patrimônio, o novo uso conferido a estas áreas e as diferentes interpretações que se fazem do passado histórico urbano. Temos também que levar em conta as diferentes utilizações propostas a estas áreas, bem como os usos que edifícios tombados assumem dentro da malha urbana.Hoje é complicado tratar todas essas questões, devido as suas complexidades, ainda mais se pensarmos apenas na preservação em si, sem se preocupar com o entorno e com todas as interpretações advindas de uma possível manutenção destas edificações.
Em alguns casos, os usos propostos pelos órgãos de preservação do patrimônio às edificações levam a uma elitização, e isso acaba por vezes gerando uma incompatibilidade com o tecido urbano e o crescimento da cidade. Com isso, então, impõe-se a reinterpretarão do passado.Uma busca completa deste passado histórico descontínuo e reconstruído pode conciliar a preservação do patrimônio com as questões trazidas pela globalização e modernização das cidades.Cita-se então como exemplo o uso turístico empregado nas edificações e a necessidade de se redefinir os centros urbanos em função das exigências do capitalismo financeiro.A preservação do Patrimônio e o tombamento afetam além do traçado urbano das cidades, também os usos desse locais.
Hoje, preservação, restauro e tombamento são o “prato cheio” da mídia e também da política, mas é preciso ter cuidado com essas questões, pois podem vir a interferir na identidade e pertencimento conferidos pelo patrimônio .Ao nos apropriarmos da história, ela não deve vir apenas como citação material do passado, mas trazendo também possibilidades de transformação.
Desde as primeiras conferências internacionais sobre conservação do patrimônio, estabeleceu-se uma tensão entre arquitetos que criticam a conservação, pois querem marcar seu espaço com novas construções, e os defensores da proteção das características da cidade contra o avanço do progresso urbano. Há ainda um terceiro grupo, dos proprietários que reivindicam o direito dos bens para uso próprio.
Em toda essa complexidade que envolve a conservação do patrimônio histórico, é necessário que se faça uma diferenciação do conceito de monumento e de monumento histórico. No livro A Alegoria do Patrimônio, Françoise Choay expõe a diferenciação entre os dois temas.Segundo a autora, o sentido de monumento é o de rememoração, para uma comunidade, de outras gerações de pessoas, eventos, ritos e crenças.Porém, esta função de memória aos poucos vai sendo apagada e o monumento vais aos poucos se tornado uma experiência estética, para então se tornar monumento histórico, um agente de embelezamento das cidades, do design público e dos estilos.
A noção de patrimônio histórico se constitui então contra o processo de urbanização dominante, em uma contínua reinterpretarão do que seria a cidade antiga. Esta necessidade pelo passado pode ser entendida então como nostalgia, memória, rememoração.Monumento históricos funcionam então como representação de um passado atemporal, criação artística do passado e simbolismo no presente.
As diferentes estratégias usadas pelos países na preservação e recuperação do passado muitas vezes são acusadas de causar um processo de gentrificação nos centros urbanos mais antigos, ou seja, muitas vezes ocorre o deslocamento de populações em função de outras mais aptas ao consumo cultural. Isto pode intensificar algumas desigualdades sociais e alterar os traços de identidade das cidades.
O patrimônio histórico necessita então de um tratamento mais lógico e informado do passado, para que não venha a ser substituído pelo consumismo cultural e turístico. O sucesso da preservação do patrimônio depende da percebermos que o espaço urbano deve ser dinâmico, onde os novos usos não eliminem o testemunho do antigo.A questão do patrimônio hoje tem sido historicizada como tradição cultural e discurso de projetos políticos de quem o promove.A idéia de patrimônio precisa ser vista como a construção de um saber, uma relação entre os indícios do passado e a vida social.Também necessita de uma discussão mais profunda sobre a inserção de projetos de requalificação, preservação e restauro em área públicas, pois estas intervenções podem ser positivas ou negativas, e sobretudo levando em conta os usuários, tendo-os sempre como referências fundamentais, pois a relação do indivíduo com o espaço que o cerca é o que mais influencia na sua forma de uso e significação do espaço em questão.

Eder Santos Carvalho
Encruzilhada do Sul, 01 de agosto de 2010.

Bibliografia:

MENEGUELLO, Cristina. A preservação do patrimônio e o tecido urbano. Parte 1: A reinterpretação do passado histórico. Arquitextos, São Paulo, 01.003, Vitruvius, ago 2000 .

MENEGUELLO, Cristina. A preservação do patrimônio e o tecido urbano. Parte 2: Manchester, Dublin e São Paulo: reflexões a partir de três estratégias para a recuperação do passado urbano. Arquitextos, São Paulo, 01.003, Vitruvius, ago 2000 .

SCOCUGLIA , Jovanka Baracuhy Cavalcanti; CHAVES, Carolina; LINS, Juliane. Percepção e memória da cidade:. O Ponto de Cem Réis. Arquitextos, São Paulo, 06.068, Vitruvius, jan 2006 .

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2001. 282 p. ISBN 85-7448-030-4

Um comentário:

  1. Olá Eder,
    gostei muito de sua postagem. Ela veio corroborar com a nossa opinião sobre a questão do patrimônio histórico. Neste sentido, gostaria de convidá-lo a conhecer nosso blog, que entre outras coisas, trata da questão do patrimônio histórico cultural da cidade de Pitangui/M.G., "A Sétima Vila do Ouro.
    Segue o link abaixo, você será bem-vindo:
    http://daquidepitangui.blogspot.com/

    Abraço

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