quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Copa 2014 – Olimpíada 2016 – Bem – vindo ao país da Fantasia

O Brasil entrou em uma aventura de alto risco – Organizar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, esta voltada exclusivamente para a cidade do Rio de Janeiro.Quando do anúncio desses dois eventos, houve festa, comoção nacional, discursos inflamados de atletas, ministros e do presidente da República, todos concordando que o Brasil finalmente chegou na turma de cima, a dos países ricos, e tem capacidade para organizar grandes eventos esportivos.
Os otimistas vão dizer que o país está em outro patamar, com uma economia sólida, com capacidade para ingressar no mundo dos países desenvolvidos, que esses eventos vão nos deixar um grande legado, enfim, argumentos não faltam para mostrar o poderio econômico e a capacidade do país.Não quero ser pessimista, mas já sabemos de antemão onde vai dar tudo isso.Não precisa ser vidente para saber que o orçamento vai estourar, que o governo vais usar dinheiro público nas obras, que não vai haver licitações, e o dinheiro do país vai escoar pelo ralo.
Já sabemos que o orçamento do Pan de 2007 ficou 10 vezes maior.Algumas instalações esportivas ficaram sem utilidade e o legado para o Rio de Janeiro foi péssimo.O estádio do Engenhão foi alugado a preço de banana para um clube falido, sem falar que fica num bairro de difícil acesso, sem vias de trânsito capazes de suportar o fluxo e ainda sem áreas de estacionamento.O parque aquático foi entregue de bandeja para o COB, porque a Prefeitura do Rio não tem condições de arcar com as despesas.Metas de melhoria do transporte público, despoluição dos rios e ampliação do saneamento básico foram ignorada.Dados que mostram como estamos despreparados para enfrentar os problemas e organizar eventos de grande porte.
Ainda não começamos nenhuma das obras para 2014 e já embarcamos na aventura de organizar a Olimpíada de 2016, com orçamento previsto para 5,5 bilhões, isto só para começar.Já ultrapassamos o valor previsto somente na divulgação da candidatura para 2016, o que esperar então quando começarem as obras.
Vivemos um sonho utópico de transformar as capitais brasileiras com os projetos para 2014.Ora, fomos escolhidos em 2007 e ainda estamos em fase de discussão, sem sequer uma obra iniciada. É claro que existem bons projetos para os estádios, mas não podemos pensar em estádios, arenas ou instalações olímpicas sem se preocupar com o entorno.Não queremos estádios assentados em bairros conflituosos, sem a infra-estrutura necessária para seu funcionamento, como transportes, acessos, questões ambientais e compatibilidade com o entorno.Além disso, é preciso planejar toda a infra-estrutura para sediar um evento dessa magnitude, com hotéis para turistas e delegações, aeroportos operando com sua capacidade de segurança, estradas bem pavimentadas, ruas livres de esgoto a céu aberto e principalmente, resolver a questão da violência urbana.Apenas algumas questões para resolvermos até 2014, mas...Ainda não começamos.
Todas essas questões de planejamento, além de postas em prática, necessitam de projetos desenvolvidos por profissionais capacitados – arquitetos, engenheiros, geógrafos, sociólogos, enfim, todos que de uma forma ou de outra, pensam e participam do planejamento urbano.Sem dúvida, este é o momento destes profissionais agirem e transformar nossas metrópoles caóticas em cidades mais saudáveis.Todavia, precisam também contar com o apoio do governo para poderem realizar seus projetos.
Faltam quatro anos para o primeiro dos dois eventos acontecer.Ainda estamos planejando.Há muita fantasia no ar – metrôs gigantescos, planos urbanos mirabolantes.Não precisa ser expert para saber que em 4 anos, num país onde reina a corrupção, muitas dessa obras não sairão do papel.Não cumprimos ainda nem os prazos de editais prometidos à FIFA.E aí, como sempre, vamos deixar tudo para a última hora, e o resultado será obras inacabadas, sem licitações, orçamentos estourados e o dinheiro do contribuinte jogado fora.
Mas vivemos no país da fantasia, onde problemas graves de saúde, educação e segurança pública são deixados de lado e o presidente diz que “nunca antes na história desse país... as coisas estiveram tão bem”.Aí, para não dar vexame lá fora, vamos usar o velho “jeitinho brasileiro”.
O problema vai ser quando acordarmos do sonho.Torçam para que isto seja apenas uma manifestação de pessimismo, ou rezem bastante.


Bibliografia
Bola Dividida – Mário Marcos de Souza, Jornal Zero Hora, Porto Alegre – RS, 26 de setembro de 2009.
Portal Vitrúvius – Minha Cidade – Copa 2014: Welcome to Congo! – Eduardo Barra – Artigo – outubro de 2009

Eder Santos
Encruzilhada do Sul, Dezembro de 2009

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